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A Libéria é um país da África Ocidental, fundado por ex-escravos libertos dos Estados Unidos no século XIX. Apesar de ter sido declarada independente em 1847, a Libéria sofreu com a instabilidade política, a desigualdade social, a corrupção e a violação dos direitos humanos ao longo de sua história. Esses fatores contribuíram para o início de uma guerra civil em 1989, que se estendeu até 2003, com breves períodos de cessar-fogo.
A guerra civil na Libéria foi um conflito armado entre diferentes grupos étnicos, políticos e militares, que disputavam o poder e o controle dos recursos naturais do país, como o diamante, o ouro e a borracha. A guerra civil causou a morte de cerca de 250 mil pessoas, o deslocamento de mais de um milhão de refugiados e o colapso das instituições públicas, da economia e da infraestrutura do país. A guerra civil também gerou graves violações dos direitos humanos, como massacres, estupros, torturas, recrutamento de crianças-soldado e uso de armas leves e pesadas.
Nesse Artigo
Diante da gravidade da situação, a Organização das Nações Unidas (ONU) interveio na Libéria, com o objetivo de restaurar a paz, a segurança, a democracia e o desenvolvimento no país. A ONU enviou uma missão de paz, chamada UNMIL, que atuou na Libéria de 2003 a 2018, com o apoio de outros países e organizações regionais. A UNMIL foi responsável por monitorar o cessar-fogo, desarmar os combatentes, proteger os civis, apoiar as eleições, promover os direitos humanos, fornecer assistência humanitária e reconstruir o país.
Neste artigo, vamos conhecer mais sobre a guerra civil na Libéria e a intervenção da ONU, e entender como esse conflito afetou a população e o país, e como a ONU contribuiu para a sua recuperação. Ficou curioso? Então continue lendo e descubra mais sobre esse tema.
As causas da guerra civil na Libéria
A guerra civil na Libéria teve origem em uma série de fatores históricos, sociais, políticos e econômicos, que criaram um cenário de tensão e conflito no país. Alguns desses fatores foram:
- A colonização da Libéria por ex-escravos americanos, que formaram uma elite política e econômica, chamada de americo-liberianos, que dominou o país por mais de um século, excluindo e oprimindo os povos nativos, que eram a maioria da população.
- A ditadura de Samuel Doe, que assumiu o poder em 1980, após um golpe de Estado que derrubou o último presidente americo-liberiano, William Tolbert. Doe era um membro da etnia Krahn, que também era minoritária no país, e governou de forma autoritária, corrupta e violenta, favorecendo os seus aliados e reprimindo os seus opositores.
- A crise econômica e social, que se agravou na década de 1980, devido à queda dos preços dos produtos de exportação da Libéria, como o ferro e a borracha, e à redução da ajuda externa, principalmente dos Estados Unidos, que eram o principal parceiro do país. A crise gerou pobreza, desemprego, fome, doenças e insatisfação popular.
- A influência dos conflitos regionais, que afetaram a Libéria, como a guerra civil na vizinha Serra Leoa, que também envolvia grupos rebeldes financiados pelo tráfico de diamantes, e a rivalidade entre os países da África Ocidental, que apoiavam diferentes facções na Libéria.
O desenrolar da guerra civil na Libéria
A guerra civil na Libéria começou em 1989, quando um grupo rebelde, chamado de Frente Nacional Patriótica da Libéria (FNPL), liderado por Charles Taylor, invadiu o país a partir da Costa do Marfim, com o objetivo de derrubar o regime de Doe. A FNPL era formada por exilados políticos, dissidentes militares e membros de várias etnias, como os Gio, os Mano e os Mandingo, que se sentiam marginalizados pelo governo.
A FNPL rapidamente conquistou o apoio de grande parte da população, que estava descontente com a situação do país, e avançou em direção à capital, Monróvia, onde enfrentou a resistência das forças leais a Doe. Em 1990, Doe foi capturado e assassinado por um grupo rival, chamado de Frente Patriótica Independente da Libéria (FPIL), liderado por Prince Johnson, que era um ex-aliado de Taylor, mas que rompeu com ele por divergências políticas.
Após a morte de Doe, a guerra civil se intensificou, com a emergência de novos grupos armados, que disputavam o poder e o controle dos recursos do país. Alguns desses grupos eram:
- A Frente Unida de Libertação Nacional (FULN), liderada por Alhaji Kromah, que representava os interesses dos Mandingo, uma etnia muçulmana que sofria discriminação e perseguição na Libéria.
- A Frente de Libertação do Povo da Libéria (FLPL), liderada por George Boley, que defendia os interesses dos Krahn, a etnia de Doe, que também era alvo de ataques e represálias dos outros grupos.
- O Conselho Nacional de Transição da Libéria (CNTL), liderado por David Nimley, que era um grupo dissidente da FNPL, que se opunha à liderança de Taylor e buscava uma solução negociada para o conflito.
- A Frente de Libertação Nacional da Libéria (FLNL), liderada por Roosevelt Johnson, que era um grupo formado por membros da etnia Krahn, que se separou da FLPL, por causa de disputas internas.
A guerra civil na Libéria foi marcada por uma grande violência e brutalidade, que atingiu principalmente os civis, que foram vítimas de massacres, estupros, torturas, mutilações, sequestros e saques. A guerra civil também provocou uma grave crise humanitária, que deixou milhares de pessoas sem acesso a água, comida, saúde, educação e moradia. A guerra civil também causou o deslocamento de mais de um milhão de pessoas, que buscaram refúgio em países vizinhos, como a Guiné, a Costa do Marfim e a Nigéria, ou em campos de deslocados internos, onde enfrentaram condições precárias e inseguras.
A intervenção da ONU na Libéria
A guerra civil na Libéria chamou a atenção da comunidade internacional, que tentou intervir para acabar com o conflito e restaurar a paz no país. A Organização das Nações Unidas (ONU) foi a principal entidade que atuou na Libéria, com o apoio de outros países e organizações regionais, como a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a União Africana (UA).
A ONU iniciou a sua intervenção na Libéria em 1990, quando o Conselho de Segurança aprovou a Resolução 788, que impôs um embargo de armas ao país, e criou o Escritório das Nações Unidas na Libéria (UNOL), que tinha como objetivo facilitar o diálogo entre as partes em conflito e promover os direitos humanos. A ONU também apoiou as iniciativas de paz da CEDEAO, que enviou uma força de paz regional, chamada de ECOMOG, que tinha como objetivo monitorar o cessar-fogo e proteger os civis.
A ONU continuou a sua intervenção na Libéria em 1993, quando o Conselho de Segurança aprovou a Resolução 866, que criou a Missão de Observação das Nações Unidas na Libéria (UNOMIL), que tinha como objetivo observar e verificar o cumprimento do acordo de paz assinado pelas partes em conflito em Cotonou, no Benim, em julho de 1993. A UNOMIL foi a primeira missão de paz da ONU a trabalhar em conjunto com uma força de paz regional, a ECOMOG, que tinha um mandato mais robusto e uma presença militar maior.
A ONU também apoiou os processos de negociação e de transição política na Libéria, que resultaram na formação de um Governo de Unidade Nacional, liderado por Amos Sawyer, em 1994, e na realização de eleições gerais, em 1997, que elegeram Charles Taylor como presidente. No entanto, esses acordos não foram suficientes para garantir a paz e a estabilidade no país, pois Taylor não respeitou os compromissos assumidos, e continuou a apoiar os rebeldes na Serra Leoa, o que gerou novas sanções e pressões internacionais.
A guerra civil na Libéria foi reacendida em 1999, quando um novo grupo rebelde, chamado de Movimento Unido pela Democracia na Libéria (MUDL), liderado por Sekou Conneh, iniciou uma ofensiva contra o governo de Taylor, a partir da Guiné. O MUDL era formado por ex-combatentes da FNPL, que se sentiam traídos por Taylor, e por membros de várias etnias, como os Lorma, os Kissi e os Gbandi, que sofriam com a repressão e a discriminação do regime.
O MUDL rapidamente conquistou o controle de grande parte do norte e do leste do país, e se aproximou da capital, Monróvia, onde enfrentou a resistência das forças leais a Taylor. Em 2003, outro grupo rebelde, chamado de Movimento pela Democracia na Libéria (MDL), liderado por Kabineh Ja’neh, surgiu no sul do país, e se juntou ao MUDL na luta contra o governo. O MDL era formado por ex-membros da FLNL, que também se opunham à liderança de Taylor, e por membros de várias etnias, como os Kru, os Grebo e os Bassa, que também eram marginalizados pelo regime.
A guerra civil na Libéria se intensificou em 2003, com a escalada dos combates, que causaram a morte de milhares de pessoas, o deslocamento de centenas de milhares de refugiados e o agravamento da crise humanitária. A guerra civil também gerou uma forte pressão internacional, que exigia a renúncia de Taylor e a restauração da paz no país.
A criação da UNMIL e o fim da guerra civil na Libéria
A ONU aumentou a sua intervenção na Libéria em 2003, quando o Conselho de Segurança aprovou a Resolução 1509, que criou a Missão das Nações Unidas na Libéria (UNMIL), que tinha como objetivo implementar o acordo de paz assinado pelas partes em conflito em Acra, no Gana, em agosto de 2003. A UNMIL foi a maior e mais complexa missão de paz da ONU na África, com um mandato abrangente e multidimensional, que incluía:
- Monitorar o cessar-fogo e verificar o desarmamento, a desmobilização, a reintegração e a reforma dos ex-combatentes.
- Proteger os civis, os funcionários da ONU, os trabalhadores humanitários e as instalações da ONU, e apoiar a segurança e o Estado de direito no país.
- Apoiar a transição política e o processo eleitoral, e promover a governança democrática, a participação cívica e os direitos humanos.
- Fornecer assistência humanitária e facilitar o retorno dos refugiados e dos deslocados internos.
- Apoiar a reconstrução e o desenvolvimento do país, e promover a cooperação regional e a estabilidade.
A UNMIL contou com o apoio de outros países e organizações regionais, como os Estados Unidos, a França, a Nigéria, a África do Sul, a CEDEAO e a UA, que contribuíram com tropas, recursos e assistência técnica para a missão. A UNMIL também trabalhou em parceria com as agências, os fundos e os programas da ONU, como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), que atuaram na Libéria para apoiar as necessidades da população e do país.
A UNMIL desempenhou um papel fundamental para o fim da guerra civil na Libéria, e para a restauração da paz, da segurança, da democracia e do desenvolvimento no país. A UNMIL conseguiu:
- Desarmar mais de 100 mil ex-combatentes, incluindo mais de 11 mil crianças-soldado, e destruir mais de 20 mil armas e 6 milhões de munições.
- Proteger mais de 3 milhões de civis, que viviam sob ameaça de violência, e prevenir novos ataques e atrocidades.
- Apoiar a realização de eleições gerais, em 2005 e em 2011, que elegeram Ellen Johnson Sirleaf como presidente, a primeira mulher a ocupar esse cargo na África, e que foram consideradas livres, justas e pacíficas.
- Promover os direitos humanos, a justiça e a reconciliação, e combater a impunidade, a corrupção e a violência sexual e de gênero.
- Fornecer assistência humanitária a mais de 2 milhões de pessoas, e facilitar o retorno de mais de 1,5 milhão de refugiados e deslocados internos.
- Apoiar a reconstrução e o desenvolvimento do país, e melhorar os indicadores de saúde, educação, água, saneamento, energia e infraestrutura.
- Promover a cooperação regional e a estabilidade, e apoiar o fim dos conflitos na Serra Leoa, na Costa do Marfim e na Guiné.
A UNMIL encerrou a sua missão na Libéria em 2018, após 15 anos de atuação, e transferiu as suas responsabilidades para o governo e as instituições nacionais, e para a Missão das Nações Unidas para o Apoio à Justiça na Libéria (UNAJL), que tinha como objetivo apoiar o fortalecimento do Estado de direito, da segurança e dos direitos humanos no país. A UNMIL foi considerada uma das missões de paz mais bem-sucedidas da ONU, e um exemplo de como a intervenção internacional pode contribuir para a solução de conflitos e para a construção da paz.
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Conclusão
A guerra civil na Libéria foi um dos conflitos mais sangrentos e devastadores da história da África, que durou 14 anos, e que causou a morte de cerca de 250 mil pessoas, o deslocamento de mais de um milhão de refugiados e o colapso do país. A guerra civil na Libéria foi causada por uma série de fatores históricos, sociais, políticos e econômicos, que geraram um cenário de tensão e conflito no país, e que envolveram diferentes grupos étnicos, políticos e militares, que disputavam o poder e o controle dos recursos naturais do país.
A guerra civil na Libéria foi encerrada em 2003, com a intervenção da ONU, que enviou uma missão de paz, chamada de UNMIL, que atuou na Libéria de 2003 a 2018, com o objetivo de implementar o acordo de paz assinado pelas partes em conflito, e de restaurar a paz, a segurança, a democracia e o desenvolvimento no país. A UNMIL foi a maior e mais complexa missão de paz da ONU na África, que contou com o apoio de outros países e organizações regionais, e que trabalhou em parceria com as agências, os fundos e os programas da ONU.
A UNMIL foi responsável por desarmar os ex-combatentes, proteger os civis, apoiar as eleições, promover os direitos humanos, fornecer assistência humanitária e reconstruir o país. A UNMIL foi considerada uma das missões de paz mais bem-sucedidas da ONU, e um exemplo de como a intervenção internacional pode contribuir para a solução de conflitos e para a construção da paz.
Perguntas frequentes
O que foi a guerra civil na Libéria?
A guerra civil na Libéria foi um conflito armado entre diferentes grupos étnicos, políticos e militares, que disputavam o poder e o controle dos recursos naturais do país, como o diamante, o ouro e a borracha. A guerra civil durou de 1989 a 2003, com breves períodos de cessar-fogo, e causou a morte de cerca de 250 mil pessoas, o deslocamento de mais de um milhão de refugiados e o colapso das instituições públicas, da economia e da infraestrutura do país.
O que foi a intervenção da ONU na Libéria?
A intervenção da ONU na Libéria foi a ação da Organização das Nações Unidas (ONU) para restaurar a paz, a segurança, a democracia e o desenvolvimento no país, após o fim da guerra civil. A ONU enviou uma missão de paz, chamada de UNMIL, que atuou na Libéria de 2003 a 2018, com o objetivo de implementar o acordo de paz assinado pelas partes em conflito, e de apoiar a transição política e o processo eleitoral, e de promover os direitos humanos, a justiça e a reconciliação, e de fornecer assistência humanitária e reconstruir o país.
Quais foram os resultados da intervenção da ONU na Libéria?
A intervenção da ONU na Libéria foi considerada uma das missões de paz mais bem-sucedidas da ONU, e um exemplo de como a intervenção internacional pode contribuir para a solução de conflitos e para a construção da paz. A intervenção da ONU na Libéria conseguiu desarmar mais de 100 mil ex-combatentes, proteger mais de 3 milhões de civis, apoiar a realização de eleições gerais, que elegeram Ellen Johnson Sirleaf como presidente, a primeira mulher a ocupar esse cargo na África, e que foram consideradas livres, justas e pacíficas, promover os direitos humanos, a justiça e a reconciliação, e combater a impunidade, a corrupção e a violência sexual e de gênero, fornecer assistência humanitária a mais de 2 milhões de pessoas, e facilitar o retorno de mais de 1,5 milhão de refugiados e deslocados internos, apoiar a reconstrução e o desenvolvimento do país, e melhorar os indicadores de saúde, educação, água, saneamento, energia e infraestrutura, e promover a cooperação regional e a estabilidade, e apoiar o fim dos conflitos na Serra Leoa, na Costa do Marfim e na Guiné.
Fontes
- Guerra Civil na Libéria – Wikipédia, a enciclopédia livre
- UNMIL | United Nations Mission in Liberia
- Liberia: From Civil War to Peace and Democracy | UN Chronicle
- Liberia: A Brief History of UNMIL | ReliefWeb
- Liberia: How a UN peacekeeping mission helped a country heal | UN News