A cultura popular é um conceito amplo que engloba as manifestações culturais produzidas e consumidas pelas massas, em contraste com as elites ou as tradições. A cultura popular pode assumir diversas formas, como música, cinema, literatura, moda, esporte, religião, humor, entre outras. A cultura popular é dinâmica, criativa e diversa, refletindo as identidades, os valores, os interesses e as aspirações das pessoas que a criam e a apreciam.
No contexto da África pós-colonial, a cultura popular adquire uma dimensão ainda mais complexa e interessante, pois envolve questões de resistência, hibridismo, globalização, nacionalismo, etnicidade, gênero, classe e geração. A África pós-colonial é o período que se segue à independência política dos países africanos, a partir da década de 1950, após séculos de dominação e exploração colonial. Nesse período, os africanos enfrentaram diversos desafios, como a construção de novas nações, a consolidação da democracia, o desenvolvimento econômico, a preservação das culturas locais, a integração regional e a inserção no mundo globalizado.
Neste artigo, vamos explorar como a cultura popular na África pós-colonial se manifesta em diferentes formas de expressão artística e social, mostrando como os africanos se apropriam, reinterpretam, transformam e difundem suas culturas, tanto dentro do continente como fora dele. Vamos analisar exemplos de música, cinema, literatura, moda e esporte, que ilustram a riqueza, a diversidade e a originalidade da cultura popular africana.
Música
A música é uma das formas mais expressivas e influentes da cultura popular na África pós-colonial. A música africana é marcada pela variedade de ritmos, instrumentos, gêneros, línguas e estilos, que refletem as diferentes origens, influências e identidades dos músicos e dos públicos. A música africana também é um meio de comunicação, de protesto, de celebração, de educação e de entretenimento, que transmite mensagens políticas, sociais, religiosas e culturais.
Um dos gêneros musicais mais populares e emblemáticos da África pós-colonial é o afrobeat, que surgiu na Nigéria na década de 1970, pelas mãos do lendário músico e ativista Fela Kuti. O afrobeat é uma fusão de elementos da música tradicional iorubá, do jazz, do funk, do highlife e do soul, com letras críticas e contestadoras, que denunciam a corrupção, a opressão, a violência e a injustiça social. O afrobeat se tornou um símbolo de resistência e de afirmação da identidade africana, que inspirou e influenciou outros músicos dentro e fora do continente, como Tony Allen, Antibalas, Seun Kuti, Femi Kuti, Angelique Kidjo, Wizkid, Burna Boy, entre outros.
Outro gênero musical que ganhou destaque na África pós-colonial é o hip hop, que surgiu nos Estados Unidos na década de 1970, como uma forma de expressão da cultura negra urbana. O hip hop se espalhou pelo mundo, chegando à África na década de 1980, onde foi adaptado e reinventado pelos artistas locais, que incorporaram elementos da música, da língua, da história e da realidade africana.
O hip hop africano é um canal de voz, de crítica, de conscientização e de mobilização, que aborda temas como a pobreza, a violência, a desigualdade, a corrupção, a democracia, a identidade, a diáspora, a juventude, a educação, a saúde, entre outros. Alguns dos nomes mais representativos do hip hop africano são Youssou N’Dour, MC Solaar, K’naan, M.anifest, Blitz the Ambassador, Emtee, Nasty C, Sarkodie, Falz, M.I Abaga, entre outros.
Cinema
O cinema é outra forma de expressão artística e cultural que se desenvolveu na África pós-colonial, como um meio de representação, de reflexão, de denúncia e de divulgação da realidade, da história e da diversidade africana. O cinema africano é marcado pela criatividade, pela originalidade, pela pluralidade e pela resistência dos cineastas, que enfrentam dificuldades de produção, de distribuição e de exibição, em um contexto de escassez de recursos, de censura, de pirataria e de competição com o cinema estrangeiro.
Um dos pioneiros e mais influentes do cinema africano é o senegalês Ousmane Sembène, considerado o “pai do cinema africano”. Sembène iniciou sua carreira na década de 1960, com filmes que retratam as contradições, os conflitos e as transformações da sociedade africana, em temas como o colonialismo, o neocolonialismo, a independência, a religião, a tradição, a modernidade, a classe, o gênero, a cultura, entre outros. Alguns dos seus filmes mais conhecidos são La Noire de… (1966), Xala (1975), Ceddo (1977) e Moolaadé (2004).
Outro cineasta africano de renome é o burquinense Gaston Kaboré, que iniciou sua carreira na década de 1970, com filmes que exploram a cultura, a história e a identidade africana, em uma perspectiva humanista e poética. Kaboré é conhecido por sua trilogia sobre a vida de um jovem chamado Wend Kuuni, que vive em uma aldeia tradicional no século XIX, em meio à invasão colonial. Os filmes são Wend Kuuni (1982), Zan Boko (1988) e Buud Yam (1997).
O cinema africano também tem se destacado na produção de documentários, que abordam temas relevantes e atuais, como a política, a economia, a ecologia, a saúde, a educação, a cultura, a diáspora, entre outros. Alguns exemplos de documentários africanos são Afrique, je te plumerai (1992), de Jean-Marie Téno, que critica o impacto do colonialismo e do neocolonialismo na cultura e na educação dos africanos; Darwin’s Nightmare (2004), de Hubert Sauper, que denuncia as consequências sociais, econômicas e ambientais da indústria pesqueira no Lago Vitória, na Tanzânia;
Sisters in Law (2005), de Kim Longinotto e Florence Ayisi, que acompanha o trabalho de duas juízas que lutam pelos direitos das mulheres e das crianças em Camarões; Virunga (2014), de Orlando von Einsiedel, que mostra a luta dos guardas do Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo, para proteger os gorilas e o meio ambiente da exploração e da guerra; I Am Not Your Negro (2016), de Raoul Peck, que revisita a história e a luta dos negros nos Estados Unidos, a partir dos escritos de James Baldwin.
Conclusão
A cultura popular na África pós-colonial é um fenômeno rico, diverso e dinâmico, que revela a criatividade, a originalidade e a resistência dos africanos, que se expressam e se comunicam através de diferentes formas de arte e de cultura. A cultura popular africana também é um meio de afirmação, de contestação, de educação e de mobilização, que reflete e influencia a realidade, a história e a identidade africana. A cultura popular africana é, portanto, um patrimônio cultural da humanidade, que merece ser conhecido, valorizado e preservado.
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