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A África é um continente rico em diversidade cultural, histórica e política. Ao longo dos séculos, os povos africanos enfrentaram diversas formas de opressão, exploração e dominação por parte de potências coloniais europeias, que buscavam controlar os seus recursos naturais, humanos e culturais. A luta pela independência africana foi um processo longo, complexo e violento, que envolveu diferentes movimentos, estratégias e atores.
Nesse Artigo
Um desses atores, muitas vezes esquecido ou marginalizado na história oficial, foi o das mulheres africanas. As mulheres desempenharam um papel fundamental na luta pela libertação dos seus países, participando ativamente de diversas formas de resistência, mobilização e organização. Elas não foram apenas vítimas passivas do colonialismo, mas agentes ativos da mudança social, política e econômica.
Neste artigo, vamos explorar o papel das mulheres na luta pela independência africana, destacando as suas contribuições, desafios e legados. Vamos ver como elas se envolveram nas guerras de libertação, nas campanhas de desobediência civil, nas organizações políticas e sociais, nas manifestações culturais e nas iniciativas de desenvolvimento. Vamos também analisar como elas enfrentaram as múltiplas formas de discriminação, violência e exclusão, tanto por parte dos colonizadores quanto dos seus próprios companheiros de luta. Por fim, vamos refletir sobre o impacto das suas ações na construção das novas nações africanas e na afirmação dos seus direitos e identidades.
As mulheres na luta de libertação
Uma das formas mais evidentes de participação das mulheres na luta pela independência africana foi a sua presença nas guerras de libertação, que ocorreram em vários países do continente, especialmente na segunda metade do século XX. As mulheres se juntaram aos movimentos armados que combatiam as forças coloniais, assumindo diferentes papéis e funções. Algumas pegaram em armas e lutaram diretamente no campo de batalha, como combatentes, guerrilheiras, espiãs, sabotadoras ou comandantes. Outras prestaram apoio logístico, médico, educacional ou comunicacional, como enfermeiras, professoras, mensageiras, cozinheiras ou rádio-operadoras. Ainda outras se dedicaram à mobilização e conscientização das populações locais, como líderes comunitárias, ativistas, sindicalistas ou jornalistas.
As mulheres que participaram das guerras de libertação demonstraram coragem, determinação e sacrifício, enfrentando as adversidades e os riscos da guerra. Elas contribuíram para a vitória dos movimentos de libertação, mas também pagaram um alto preço por isso. Muitas foram mortas, feridas, torturadas, presas, exiladas ou estupradas. Muitas perderam os seus familiares, amigos, bens ou terras. Muitas sofreram traumas físicos e psicológicos, que afetaram as suas vidas após a independência.
Alguns exemplos de mulheres que se destacaram nas guerras de libertação foram:
- Josina Machel, de Moçambique, que foi uma das fundadoras e líderes da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o principal movimento de libertação do país. Ela participou da guerrilha contra o domínio português, organizou as mulheres nas zonas libertadas e defendeu os seus direitos. Ela morreu em 1971, aos 25 anos, devido a uma doença. Ela é considerada a “mãe da nação moçambicana” e o seu nome é dado a várias instituições e prêmios.
- Albertina Sisulu, da África do Sul, que foi uma das líderes do Congresso Nacional Africano (ANC), o principal movimento de libertação do país. Ela participou da luta contra o regime do apartheid, que impunha a segregação racial, e foi presa e banida várias vezes. Ela também fundou a Federação das Mulheres Sul-Africanas (FEDSAW), que organizou as mulheres contra a opressão. Ela morreu em 2011, aos 92 anos, sendo reconhecida como uma das “mães da nação sul-africana” e uma das “heroínas da liberdade”.
- Yaa Asantewaa, de Gana, que foi uma das líderes do Império Ashanti, um dos reinos tradicionais do país. Ela liderou a resistência contra a invasão britânica, que buscava anexar o território e controlar os recursos de ouro. Ela comandou um exército de homens e mulheres, que lutou bravamente contra os colonizadores. Ela foi capturada em 1901 e exilada nas Seychelles, onde morreu em 1921. Ela é considerada uma das “rainhas guerreiras da África” e uma das “mães da nação ganense”.
As mulheres na luta e nas campanhas de desobediência civil
Outra forma de participação das mulheres na luta pela independência africana foi a sua presença nas campanhas de desobediência civil, que consistiam em ações pacíficas e não-violentas de protesto, resistência e boicote contra as autoridades coloniais. As mulheres se envolveram em diversas formas de desobediência civil, como greves, marchas, manifestações, petições, abaixo-assinados, ocupações, piquetes, bloqueios, sabotagens ou desacatos. Elas também se recusaram a cumprir as leis, impostos, taxas, restrições ou obrigações impostas pelos colonizadores, como o uso de passes, a entrega de colheitas, o trabalho forçado, o recrutamento militar ou a educação colonial.
As mulheres que participaram das campanhas de desobediência civil demonstraram criatividade, solidariedade e persistência, desafiando as normas e as expectativas impostas pelo colonialismo. Elas contribuíram para a desestabilização e a deslegitimação do poder colonial, mas também enfrentaram a repressão e a violência por parte dos colonizadores. Muitas foram multadas, presas, espancadas, humilhadas ou assassinadas. Muitas sofreram represálias, intimidações, perseguições ou discriminações. Muitas tiveram que lidar com as consequências econômicas, sociais e familiares das suas ações.
Alguns exemplos de mulheres que se destacaram nas campanhas de desobediência civil foram:
- Funmilayo Ransome-Kuti, da Nigéria, que foi uma das líderes do Movimento das Mulheres de Abeokuta (AWA), uma organização que reuniu milhares de mulheres contra o domínio britânico. Ela liderou a resistência contra os impostos abusivos, as restrições comerciais e a interferência política impostos pelos colonizadores. Ela organizou greves, marchas, manifestações e boicotes, que forçaram os colonizadores a negociar e a fazer concessões. Ela morreu em 1978, aos 77 anos, sendo reconhecida como uma das “mães da nação nigeriana” e uma das “primeiras feministas da África”.
- Lilian Ngoyi, da África do Sul, que foi uma das líderes do Congresso Nacional Africano (ANC), o principal movimento de libertação do país. Ela participou da luta contra o regime do apartheid, que impunha a segregação racial, e foi presa e banida várias vezes. Ela também foi uma das organizadoras da Marcha das Mulheres de 1956, que reuniu cerca de 20 mil mulheres em Pretória, para protestar contra o uso de passes pelos negros. Ela morreu em 1980, aos 68 anos, sendo reconhecida como uma das “mães da nação sul-africana” e uma das “heroínas da liberdade”.
- Fatima Ahmed Ibrahim, do Sudão, que foi uma das líderes do Movimento Democrático da União das Mulheres Sudanesas (MDUMS), uma organização que lutou pela independência do país e pelos direitos das mulheres. Ela participou da resistência contra o domínio britânico e egípcio, e foi uma das organizadoras da greve geral de 1953, que paralisou o país e pressionou os colonizadores a conceder a autonomia. Ela também foi uma das fundadoras do Partido Comunista do Sudão (PCS), que defendia a democracia e a justiça social. Ela morreu em 2017, aos 84 anos, sendo reconhecida como uma das “mães da nação sudanesa” e uma das “pioneiras do feminismo árabe”.
As mulheres nas organizações políticas e sociais
Uma terceira forma de participação das mulheres na luta pela independência africana foi a sua presença nas organizações políticas e sociais, que tinham como objetivo a articulação, a representação e a defesa dos interesses e das demandas dos povos africanos. As mulheres se integraram ou criaram diversas organizações políticas e sociais, como partidos, sindicatos, associações, cooperativas, movimentos ou redes. Elas ocuparam cargos de liderança, direção ou coordenação, ou atuaram como militantes, membros ou voluntárias. Elas também participaram de conferências, congressos, reuniões ou assembleias, onde discutiram, deliberaram e decidiram sobre as questões políticas e sociais.
As mulheres que participaram das organizações políticas e sociais demonstraram capacidade, responsabilidade e compromisso, contribuindo para a construção de uma sociedade civil forte, diversa e democrática. Elas contribuíram para a formulação e a implementação de políticas públicas, programas e projetos, que visavam o desenvolvimento e o bem-estar dos povos africanos. Elas também enfrentaram as dificuldades e os desafios de atuar em espaços dominados pelos homens, que muitas vezes não reconheciam ou valorizavam as suas vozes, opiniões e propostas.
Alguns exemplos de mulheres que se destacaram nas organizações políticas e sociais foram:
- Ellen Johnson Sirleaf, da Libéria, que foi a primeira mulher eleita presidente de um país africano, em 2005. Ela liderou a reconstrução do país após a guerra civil, que durou de 1989 a 2003, e promoveu a paz, a democracia e o desenvolvimento. Ela também foi uma das fundadoras e líderes da Organização das Mulheres da África Ocidental para a Paz (OMAOP), que reuniu mulheres de vários países da região para mediar os conflitos e defender os direitos humanos. Ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2011, junto com outras duas ativistas africanas, sendo reconhecida como uma das “mães da nação liberiana” e uma das “líderes mundiais da paz”.
- Wangari Maathai, do Quênia, que foi a primeira mulher africana a receber o Prêmio Nobel da Paz, em 2004. Ela fundou e liderou o Movimento Cinturão Verde (MCV), uma organização que plantou mais de 50 milhões de árvores em vários países africanos, para combater a desertificação, a pobreza e a fome. Ela também foi uma das fundadoras e líderes da Liga das Mulheres Ambientalistas da África (LMEA), que reuniu mulheres de vários países do continente para defender o meio ambiente e os direitos das mulheres. Ela morreu em 2011, aos 71 anos, sendo reconhecida como uma das “mães da nação queniana” e uma das “protetoras da natureza”.
- Aoua Keita, do Mali, que foi uma das líderes do Movimento de Libertação Nacional do Mali (MLNM), o principal movimento de libertação do país. Ela participou da luta contra o domínio francês e foi uma das fundadoras e líderes da União das Mulheres do Mali (UMM), que organizou as mulheres para apoiar a independência e o desenvolvimento. Ela também foi uma das primeiras mulheres a ocupar cargos políticos no país, como deputada, ministra e embaixadora. Ela morreu em 1980, aos 66 anos, sendo reconhecida como uma das “mães da nação maliana” e uma das “pioneiras da política africana”.
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Conclusão
Neste artigo, vimos como as mulheres africanas desempenharam um papel fundamental na luta pela independência do continente, participando de diversas formas de resistência, mobilização e organização. Vimos como elas contribuíram para a libertação dos seus países, mas também como elas enfrentaram as múltiplas formas de opressão, violência e exclusão, tanto por parte dos colonizadores quanto dos seus próprios companheiros de luta. Vimos também como elas impactaram a construção das novas nações africanas e a afirmação dos seus direitos e identidades.
As mulheres africanas foram e são protagonistas da história do continente, e não devem ser esquecidas ou silenciadas. Elas são exemplos de coragem, determinação e compromisso, que inspiram e motivam as novas gerações de mulheres e homens a seguir lutando por uma África livre, justa e próspera.
Perguntas frequentes
Qual foi o papel das mulheres na luta pela independência africana?
As mulheres participaram de diversas formas na luta pela independência africana, como combatentes, guerrilheiras, espiãs, sabotadoras, comandantes, enfermeiras, professoras, mensageiras, cozinheiras, rádio-operadoras, líderes comunitárias, ativistas, sindicalistas, jornalistas, grevistas, marchantes, manifestantes, ocupantes, piqueteiras, bloqueadoras, desacatadoras, líderes políticas, sociais, ambientais ou culturais, entre outras.
Quais foram as contribuições das mulheres para a libertação dos seus países?
As mulheres contribuíram para a vitória dos movimentos de libertação, para a desestabilização e a deslegitimação do poder colonial, para a construção de uma sociedade civil forte, diversa e democrática, para a formulação e a implementação de políticas públicas, programas e projetos, que visavam o desenvolvimento e o bem-estar dos povos africanos, entre outras.
Quais foram os desafios e as dificuldades que as mulheres enfrentaram na luta pela independência africana?
As mulheres enfrentaram as adversidades e os riscos da guerra, a repressão e a violência por parte dos colonizadores, as represálias, intimidações, perseguições ou discriminações, as consequências econômicas, sociais e familiares das suas ações, os traumas físicos e psicológicos, a perda de familiares, amigos, bens ou terras, a falta de reconhecimento ou valorização por parte dos seus próprios companheiros de luta, a exclusão ou marginalização dos espaços de poder e decisão, entre outras.
Quais foram os impactos e os legados das mulheres na construção das novas nações africanas e na afirmação dos seus direitos e identidades?
As mulheres impactaram a construção das novas nações africanas e a afirmação dos seus direitos e identidades, ao influenciar as constituições, as leis, as instituições, as políticas, as culturas, as identidades, as memórias, as narrativas, as representações, as homenagens, os prêmios, as celebrações, as tradições, as artes, as ciências, as tecnologias, as religiões, as línguas, as educações, as saúde, as economias, as ecologias, as solidariedades, as cooperações, as integrações, as diversidades, as igualdades, as liberdades, as justiças, as paz, entre outras.