Poucas histórias da humanidade são tão impressionantes como a do Império do Mali (c. 1235–1670 d.C.), um dos maiores e mais ricos estados que o mundo já viu. Quando os europeus ainda viviam na pobreza feudal, o Mali controlava as maiores minas de ouro do planeta, as rotas transaarianas e cidades que eram verdadeiras metrópoles do conhecimento. O seu governante mais famoso, Mansa Musa, é até hoje considerado por muitos historiadores o homem mais rico de todos os tempos.

Neste artigo vamos mergulhar fundo nessa história fascinante, desde as origens lendárias até ao declínio, passando pela economia, cultura, religião, arquitetura e, claro, pela lendária riqueza em ouro que fez o Cairo tremer e a Europa sonhar.

As Origens do Império: de Sundjata Keita ao Nascimento de um Gigante

Tudo começou com Sundjata Keita, o “Leão do Mali”. Fundador do império em 1235, após a vitória na Batalha de Kirina contra o rei sumanguru do Reino de Sosso, Sundjata unificou os povos mandingas e lançou as bases de um estado que viria a dominar a África Ocidental durante quase quatro séculos.

“O mundo não conhecia outro rei tão poderoso como ele, nem outro povo tão obediente.”
— Crónica árabe do século XIV sobre Sundjata

Se quiser saber mais sobre os reinos que precederam o Mali, recomendo ler Reino de Gana: o surgimento e Segredos do Império de Gana, pois o Mali herdou diretamente as rotas comerciais e a fama do “país do ouro” do antigo Gana.

A Riqueza em Ouro e Sal: o “Petróleo” da Idade Média Africana

O Império do Mali controlava as minas de Bambuk, Bure e Galam, além de ter acesso indireto às minas de Lobi e Akan. Estima-se que, no auge, entre 60 % e 70 % de todo o ouro que circulava no Mediterrâneo e no Médio Oriente vinha do Mali.

O comércio funcionava assim:

  • Ouro → do sul (florestas) para o norte (deserto)
  • Sal → do norte (minas de Taghaza e Taodeni) para o sul
  • Cobre, marfim, escravos, tecidos, livros → circulavam nas duas direções

Este comércio transformou cidades como Niani, Timbuktu, Djenné e Gao em centros cosmopolitas. Quer saber como funcionavam essas rotas? Veja o artigo detalhado As rotas comerciais transaarianas e Comércio de ouro e sal no oeste.

Mansa Musa: o Rei que Fez o Preço do Ouro Desabar no Egito

Em 1324, Mansa Musa empreendeu a famosa peregrinação a Meca. Levou consigo:

  • 60 000 homens (incluindo 12 000 escravos)
  • 100 camelos carregando cada um 135 kg de ouro em pó
  • Uma quantidade tão grande de ouro que, ao passar pelo Cairo, doou e gastou tanto que o preço do metal precioso caiu mais de 20 % durante quase 12 anos.

O cronista egípcio Al-Umari escreveu:

“Este homem espalhou sobre o Cairo a bênção da sua caridade. Não havia pessoa, funcionário do sultão ou não, que não recebesse dele uma soma em ouro.”

Se quiser mergulhar na vida deste governante lendário, leia os artigos:

Timbuktu: a Cidade dos 333 Santos e Capital do Conhecimento

Durante o Império do Mali, Timbuktu tornou-se uma das maiores universidades do mundo medieval. A mesquita de Sankore funcionava como madraça e chegou a ter 25 000 estudantes.

Livros eram mais valiosos que ouro. Um manuscrito podia custar mais que uma casa. Hoje ainda sobrevivem mais de 700 000 manuscritos em bibliotecas familiares de Timbuktu e arredores.

Quer saber mais? Confira:

Arquitetura em Barro e Glória: Djenné, a Joia do Sahel

A Grande Mesquita de Djenné, reconstruída em 1907 mas com origem no século XIII, é o maior edifício de adobe do mundo e Património Mundial da UNESCO. Durante o Mali medieval, milhares de mesquitas semelhantes pontilhavam o império.

A arquitetura sudanesa-saheliana (torna-se símbolo da riqueza e da sofisticação técnica do Mali.

Sociedade e Cultura: Hierarquia, Tolerância e Arte

O Mali era um estado multiétnico e multirreligioso. Havia:

  • Muçulmanos (elite governante)
  • Animistas (grande parte da população rural)
  • Judeus e cristãos em algumas cidades comerciais

As mulheres tinham papel importante na economia e, por vezes, no poder. Rainha-mãe, conselheiras e grandes comerciantes eram comuns.

A tradição oral griot continua viva até hoje e foi essencial para preservar a história do império. A epopeia de Sundjata é recitada ainda hoje em toda a África Ocidental.

O Declínio do Império: Invasões, Secas e a Ascensão de Songhai

A partir do final do século XV, o Mali começou a perder controlo das rotas comerciais. Os tuaregues atacaram do norte, os mossis do sul e, principalmente, o Reino (depois Império) Songhai, liderado por Sonni Ali Ber e Askia Mohamed, conquistou as principais cidades.

Em 1670, o império estava reduzido a um pequeno reino regional. Mas o seu legado cultural, linguístico (o bambara e o mandinka) e comercial continua vivo.

Leia mais em:

Legado do Mali: Por que Ainda Falamos Dele 700 Anos Depois?

  • O ouro do Mali financiou o Renascimento europeu (indiretamente)
  • Timbuktu foi um dos maiores centros intelectuais do mundo medieval
  • O modelo de governação descentralizada inspirou estados posteriores
  • A língua mandinka é falada hoje por mais de 40 milhões de pessoas
  • Mansa Musa continua no topo das listas de “pessoas mais ricas da história”

Perguntas Frequentes sobre o Império do Mali

1. Quanto valeria hoje a fortuna de Mansa Musa?
Estimativas variam entre 400 e 700 mil milhões de dólares atuais – mais que Jeff Bezos + Elon Musk juntos.

2. O Império do Mali era maior que o Império Romano?
Em extensão territorial, sim: cerca de 2,5 milhões de km² no seu auge.

3. As mulheres podiam ser rainhas no Mali?
Não existia rainha reinante, mas várias rainhas-mães e princesas exerciam enorme influência política e económica.

4. Timbuktu era realmente tão rica como dizem?
Sim. Ibn Battuta, que visitou a cidade em 1352, escreveu: “A segurança é tão grande que os habitantes deixam as portas abertas à noite.”

5. Por que o ouro do Mali desapareceu dos mapas europeus?
Após a descoberta da América e das rotas marítimas para a Índia, o comércio transaariano entrou em declínio acentuado.

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A história da África não começa com a chegada dos europeus.
Começa há milhões de anos, no berço da humanidade.

Até ao próximo artigo!
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