A História da África sob a Ótica Africana
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A história da África tem sido tradicionalmente contada sob uma ótica eurocêntrica, marginalizando as vozes e perspectivas dos próprios africanos. No entanto, nas últimas décadas, uma nova historiografia africana emergiu, desafiando essas narrativas e trazendo à tona uma visão mais autêntica e diversificada do continente.
A Coleção “História Geral da África” da UNESCO
Um marco importante nesse processo foi a publicação da coleção “História Geral da África”, organizada pela UNESCO entre 1965 e 1999. Essa obra, composta por oito volumes, reuniu cerca de 350 especialistas, em sua maioria africanos, para contar a história do continente a partir de uma perspectiva autóctone.
Alguns dos principais objetivos da coleção incluíam:
- Desconstruir os olhares eurocêntricos e racistas sobre a África forjados ao longo dos séculos
- Analisar a África sob um prisma especificamente africano, utilizando categorias de análise peculiares às sociedades africanas
- Recuperar a historicidade do continente em novos modelos, sem negar as exigências da ciência universal
Novas Abordagens e Periodizações
A “História Geral da África” legou uma interpretação científica e pós-eurocêntrica da história do continente, construindo linhas investigativas inovadoras. Algumas das principais contribuições incluem:
- Uma periodização da história africana que não se baseia em eventos externos, mas em dinâmicas internas ao continente
- O destaque para a agência histórica dos africanos, mostrando-os como sujeitos ativos de sua própria história
- A valorização das contribuições das civilizações africanas antigas, como Egito, Cartago e os reinos da Etiópia e Mali
Impactos e Desafios
A publicação da “História Geral da África” foi um passo importante na descolonização da historiografia africana. Ela garantiu que o ponto de vista dos intelectuais africanos sobre a história de seu continente se tornasse acessível a um público mais amplo.
No entanto, a obra também enfrenta alguns desafios:
- A heterogeneidade de contribuições e autores, que nem sempre apresentam uma visão unificada
- A necessidade de revisão e atualização, dada a publicação original entre as décadas de 1960-1990
- A dificuldade de se fazer história da África sem levar em conta as perspectivas africanas, após a publicação da coleção
Conclusão
A história da África está passando por uma transformação profunda, com o surgimento de novas narrativas e abordagens que colocam os africanos no centro de sua própria história. Obras como a “História Geral da África” são fundamentais para descolonizar o conhecimento histórico e valorizar as contribuições das civilizações africanas. Embora desafios persistam, essa nova historiografia africana promete continuar a florescer e a influenciar a compreensão do passado e do presente do continente.
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