
A luta contra o terrorismo na África pós-colonial
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O terrorismo é um dos maiores problemas que afetam a paz e a segurança na África pós-colonial. Segundo o Índice Global de Terrorismo de 2020, a África Subsaariana é a região mais afetada pelo terrorismo no mundo, com 41% dos ataques e 54% das mortes registradas em 2019. Alguns dos grupos terroristas mais ativos na região são o Boko Haram, o Al-Shabaab, o Estado Islâmico na África Ocidental e Central, e o Al-Qaeda no Magrebe Islâmico.
Mas o que explica a persistência e a expansão do terrorismo na África pós-colonial? Quais são os principais desafios e obstáculos para combatê-lo? E quais são as possíveis soluções para prevenir e erradicar esse fenômeno? Neste artigo, vamos tentar responder a essas perguntas, analisando as causas, as consequências e as estratégias de luta contra o terrorismo na África pós-colonial.
As causas do terrorismo na África pós-colonial
O terrorismo na África pós-colonial não pode ser explicado por uma única causa, mas por uma combinação de fatores históricos, políticos, econômicos, sociais e religiosos. Alguns desses fatores são:
- O legado do colonialismo: A colonização europeia na África deixou marcas profundas na estrutura política, econômica e social do continente. A divisão arbitrária das fronteiras, a exploração dos recursos naturais, a imposição de sistemas políticos e culturais estranhos, a marginalização e a opressão das populações locais, e a criação de elites colaboracionistas geraram conflitos étnicos, nacionalistas e separatistas que persistem até hoje. Além disso, o colonialismo contribuiu para o surgimento de movimentos de resistência e de libertação nacional, que muitas vezes recorreram à violência armada como forma de luta. Esses movimentos, por sua vez, deram origem a grupos radicais e extremistas, que se aproveitaram do vácuo de poder e da instabilidade política deixados pelas potências coloniais para promover suas agendas ideológicas e religiosas.
- A fragilidade do Estado: A maioria dos Estados africanos pós-coloniais enfrenta sérios problemas de governança, de legitimidade e de capacidade institucional. Muitos desses Estados são caracterizados por regimes autoritários, corruptos e repressivos, que não respeitam os direitos humanos, a democracia e o Estado de direito. Esses regimes, por sua vez, geram insatisfação, desconfiança e alienação entre os cidadãos, que se sentem excluídos e desprotegidos pelo Estado. Além disso, muitos Estados africanos pós-coloniais são incapazes de prover serviços básicos, como saúde, educação, segurança e justiça, para suas populações, especialmente nas áreas rurais e periféricas. Essa situação cria um espaço para que os grupos terroristas se apresentem como alternativas de poder e de prestação de serviços, atraindo e recrutando adeptos entre os setores mais vulneráveis e marginalizados da sociedade.
- A pobreza e a desigualdade: A África é o continente mais pobre e mais desigual do mundo, com cerca de 40% da população vivendo abaixo da linha da pobreza e com um coeficiente de Gini de 0,44. A pobreza e a desigualdade na África são resultado de vários fatores, como a dependência econômica, a dívida externa, a má gestão dos recursos naturais, a corrupção, o nepotismo, o clientelismo, a falta de oportunidades, a discriminação, a exclusão social, e a violação dos direitos humanos. A pobreza e a desigualdade, por sua vez, geram frustração, ressentimento e desesperança entre os africanos, que se tornam mais suscetíveis à radicalização e ao extremismo. Além disso, a pobreza e a desigualdade facilitam a atuação dos grupos terroristas, que se aproveitam da miséria e da injustiça para financiar suas atividades, oferecer incentivos materiais e prometer uma vida melhor para seus seguidores.
- A influência externa: O terrorismo na África pós-colonial também é influenciado por fatores externos, como a intervenção militar, a ingerência política, a competição geopolítica, e a difusão ideológica e religiosa de outros países e regiões. Por exemplo, a invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos em 2001 e a intervenção da OTAN na Líbia em 2011 tiveram impactos negativos na segurança e na estabilidade da África, ao provocar o deslocamento de combatentes, armas e recursos para o continente. Da mesma forma, a rivalidade entre as potências regionais, como a Arábia Saudita e o Irã, e a influência de organizações transnacionais, como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, contribuem para o aumento da violência e do extremismo na África, ao apoiar e financiar grupos terroristas locais, e ao disseminar ideologias e doutrinas radicais.
As consequências do terrorismo na África pós-colonial
O terrorismo na África pós-colonial tem consequências devastadoras para o continente e para o mundo. Algumas dessas consequências são:
- A perda de vidas humanas: O terrorismo é responsável por milhares de mortes e feridos na África todos os anos. Segundo o Índice Global de Terrorismo de 2020, o continente registrou 6.490 ataques e 13.871 mortes em 2019, sendo o segundo mais afetado pelo terrorismo no mundo, depois do Oriente Médio e do Norte da África. Além disso, o terrorismo provoca o deslocamento forçado de milhões de pessoas, que fogem da violência e da perseguição, e que enfrentam condições precárias de vida em campos de refugiados e de deslocados internos.
- O atraso do desenvolvimento: O terrorismo prejudica o desenvolvimento econômico, social e humano da África, ao destruir infraestruturas, propriedades e recursos, ao reduzir o investimento, o comércio e o turismo, ao aumentar os gastos militares e de segurança, ao gerar instabilidade política e social, e ao afetar a educação, a saúde e o bem-estar das populações. Segundo o Banco Mundial, o custo econômico do terrorismo na África Subsaariana foi estimado em 4,5 bilhões de dólares entre 2007 e 2015, o que representa 0,5% do PIB da região. Além disso, o terrorismo compromete os esforços para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que visam erradicar a pobreza, a fome, a doença, a desigualdade, e a degradação ambiental até 2030.
- A ameaça à paz e à segurança: O terrorismo representa uma ameaça à paz e à segurança na África e no mundo, ao provocar conflitos armados, tensões diplomáticas, crises humanitárias, e violações dos direitos humanos. O terrorismo também desafia a soberania e a integridade territorial dos Estados africanos, ao questionar sua legitimidade e autoridade, ao explorar suas fragilidades e vulnerabilidades, e ao criar áreas de influência e de controle
As estratégias de luta contra o terrorismo na África pós-colonial
O terrorismo na África pós-colonial é um problema complexo e multifacetado, que requer uma abordagem holística e integrada, que envolva os atores locais, regionais e internacionais. Algumas das estratégias que podem ser adotadas para combater o terrorismo na África pós-colonial são:
- O fortalecimento do Estado: O Estado é o principal responsável pela garantia da paz e da segurança na África pós-colonial, e deve ser fortalecido em suas dimensões política, econômica, social e institucional. Isso implica promover a democracia, o Estado de direito, os direitos humanos, a participação cidadã, a transparência, a prestação de contas, e a inclusão social. Além disso, o Estado deve prover serviços básicos, como saúde, educação, segurança e justiça, para suas populações, especialmente nas áreas mais afetadas pelo terrorismo. O fortalecimento do Estado também envolve melhorar a capacidade e a eficiência das forças de segurança e de defesa, respeitando os princípios humanitários e os direitos humanos.
- A cooperação regional e internacional: O terrorismo na África pós-colonial é um problema transnacional, que ultrapassa as fronteiras dos Estados, e que exige uma resposta coordenada e cooperativa entre os atores regionais e internacionais. Isso implica fortalecer os mecanismos e as instituições de integração e de segurança regional, como a União Africana, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, a Comunidade Econômica dos Estados da África Central, e a Força Conjunta do G5 Sahel. Além disso, implica estabelecer parcerias e diálogos com os atores internacionais, como a ONU, a União Europeia, os Estados Unidos, a China, e outros países e organizações, para obter apoio político, financeiro, técnico e logístico para a luta contra o terrorismo. A cooperação regional e internacional também envolve compartilhar informações, experiências e boas práticas, e respeitar o princípio da não ingerência nos assuntos internos dos Estados.
- A prevenção e a resolução de conflitos: O terrorismo na África pós-colonial está intimamente relacionado com os conflitos armados, que são tanto causa quanto consequência do fenômeno. Por isso, é fundamental prevenir e resolver os conflitos que alimentam e sustentam o terrorismo, através de meios pacíficos e diplomáticos. Isso implica promover o diálogo, a negociação, a mediação, a reconciliação, e a construção da confiança entre as partes envolvidas, respeitando a diversidade e a pluralidade de opiniões, interesses e identidades. Além disso, implica apoiar os processos de paz, de desarmamento, de desmobilização, de reintegração, e de reconstrução pós-conflito, que visam restaurar a normalidade e a estabilidade nas áreas afetadas pelo terrorismo.
- A promoção do desenvolvimento sustentável: O terrorismo na África pós-colonial é também um reflexo da pobreza e da desigualdade, que geram exclusão e marginalização social. Por isso, é essencial promover o desenvolvimento sustentável, que visa atender as necessidades do presente sem comprometer as do futuro, e que integra as dimensões econômica, social e ambiental. Isso implica estimular o crescimento econômico, a diversificação produtiva, a geração de emprego e renda, a redução da pobreza e da fome, e a melhoria da qualidade de vida. Além disso, implica garantir a educação, a saúde, a cultura, o lazer, e os direitos de todos, sem discriminação ou violência. A promoção do desenvolvimento sustentável também envolve proteger o meio ambiente, preservar os recursos naturais, e combater as mudanças climáticas, que são fatores que podem agravar o terrorismo na África pós-colonial.
O terrorismo na África pós-colonial é um dos maiores desafios que o continente enfrenta no século XXI, e que afeta a paz, a segurança, o desenvolvimento, e os direitos humanos de milhões de pessoas. O terrorismo na África pós-colonial é um problema complexo e multifacetado, que tem causas históricas, políticas, econômicas, sociais e religiosas, e que tem consequências devastadoras para o continente e para o mundo.
Para combater o terrorismo na África pós-colonial, é preciso adotar uma abordagem holística e integrada, que envolva os atores locais, regionais e internacionais, e que combine estratégias de fortalecimento do Estado, de cooperação regional e internacional, de prevenção e resolução de conflitos, e de promoção do desenvolvimento sustentável. Somente assim, será possível construir uma África mais pacífica, segura, próspera e justa para todos.
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Perguntas frequentes
O que é o terrorismo?
O terrorismo é o uso intencional da violência ou da ameaça da violência contra civis ou não combatentes, com o objetivo de intimidar, coagir ou influenciar um público alvo, para fins políticos, ideológicos ou religiosos.
O que é a África pós-colonial?
A África pós-colonial é o período histórico que se inicia após a independência dos países africanos das potências coloniais europeias, entre as décadas de 1950 e 1970, e que se estende até os dias atuais.
Quais são os principais grupos terroristas que atuam na África pós-colonial?
Alguns dos principais grupos terroristas que atuam na África pós-colonial são o Boko Haram, o Al-Shabaab, o Estado Islâmico na África Ocidental e Central, e o Al-Qaeda no Magrebe Islâmico.
Quais são as regiões mais afetadas pelo terrorismo na África pós-colonial?
As regiões mais afetadas pelo terrorismo na África pós-colonial são a África Subsaariana, especialmente o Sahel, o Lago Chade, o Corno da África, e a Bacia do Congo, e o Norte da África, especialmente o Magrebe e o Egito.
Como o terrorismo pode ser combatido na África pós-colonial?
O terrorismo pode ser combatido na África pós-colonial através de uma abordagem holística e integrada, que envolva os atores locais, regionais e internacionais, e que combine estratégias de fortalecimento do Estado, de cooperação regional e internacional, de prevenção e resolução de conflitos, e de promoção do desenvolvimento sustentável.