“Quando Mansa Musa passou pelo Cairo em 1324, distribuiu tanto ouro que o preço do metal precioso caiu durante mais de dez anos no Egito.”
A frase, registada pelo cronista árabe Al-Umari, resume o impacto de um homem que, ainda hoje, é considerado por muitos economistas o ser humano mais rico de todos os tempos.
Bem-vindos a uma das histórias mais fascinantes da África medieval. Hoje vamos mergulhar na vida de Mansa Musa (c. 1280–1337), o décimo mansa (imperador) do Mali, cujo reinado transformou o Sahel numa das regiões mais prósperas e cultas do planeta.
Origens: Do Berço da Humanidade ao Império do Ouro
A história de Mansa Musa não começa no século XIV. Começa muito antes, quando os primeiros humanos deixaram a África e espalharam a espécie pelo mundo. Milénios depois, o mesmo continente viu nascer civilizações complexas como o Reino de Kush, Cartago e o Império de Axum.
Foi nesse caldo cultural que surgiu, por volta do século VIII, o Reino de Gana, famoso pelas suas rotas comerciais transaarianas de ouro e sal. Quando Gana entrou em declínio, o vácuo de poder foi preenchido pelos mandingas (povo mandé), que fundaram o Império do Mali no século XIII.
A Ascensão de Kankan Musa ao Trono
Musa Keita nasceu por volta de 1280, neto do meio-irmão de Sundiata Keita — o lendário fundador do império (leia mais em A ascensão e queda do Império de Mali).
Quando o seu antecessor, Mansa Abu Bakr II, desapareceu no Atlântico numa expedição marítima (sim, os malianos tentaram atravessar o oceano antes de Colombo — veja Mansa Abu Bakari), Musa foi coroado em 1312 com o título de Mansa (“rei dos reis”).
A Peregrinação que Abalou o Mundo (1324–1325)
Em 1324, Mansa Musa decidiu cumprir o quinto pilar do Islão: a Hajj a Meca. Partiu de Niani (capital do Mali) com uma comitiva que as fontes árabes estimam entre 60 000 e 100 000 pessoas, incluindo:
- 12 000 escravos pessoais
- 500 escravos carregando bastões de ouro de 3 kg cada
- 80 a 100 camelos carregando cerca de 12 a 18 toneladas de ouro em pó
A passagem pelo Cairo foi lendária. Musa doou tanto ouro que, segundo o historiador Chihab al-Umari, o valor do dinar caiu 10–25 % e só recuperou doze anos depois. O sultão mameluco do Egito tentou emprestar-lhe dinheiro “para ele não perder prestígio”, mas Musa recusou com elegância.
Se queres saber mais detalhes desta viagem épica, recomendo o artigo completo: Mansa Musa e a sua viagem.
Timbuktu: A Pérola do Sahel
De regresso da Hajj, Mansa Musa trouxe consigo arquitetos, juristas e poetas andaluzes e norte-africanos. Mandou construir:
- A Grande Mesquita Djinguereber (ainda de pé)
- A Universidade de Sankoré — que chegou a ter 25 000 estudantes
- O Palácio Madugu
Timbuktu tornou-se o maior centro intelectual do mundo islâmico fora de Bagdad. Veja mais em Timbuktu tornou o centro do conhecimento.
Economia: Ouro, Sal e Conhecimento
O Império do Mali controlava as minas de Bambuk, Bure e Galam — as maiores reservas de ouro do mundo na época. O comércio era feito com:
- Sal (vindo do Saara, mais valioso que ouro em algumas regiões)
- Marfim
- Escravos
- Cobre
- Livros (sim, manuscritos árabes eram artigos de luxo)
As caravanas do Saara ligavam o Mali ao Magrebe, Egito e até à Europa indireta.
Administração e Tolerância Religiosa
Mansa Musa governava um império multiétnico e multirreligioso. Apesar de devoto muçulmano, manteve práticas tradicionais africanas e nunca impôs a conversão forçada. As províncias eram governadas por farins (governadores) leais, e a justiça baseava-se numa mistura de lei islâmica e costumes mandingas.
O Homem Mais Rico da História?
Estudos modernos (Celebrity Net Worth, 2012; ajustado à inflação) estimam a fortuna pessoal de Mansa Musa em cerca de 400 mil milhões de dólares atuais — mais que Jeff Bezos, Elon Musk e Bill Gates juntos. A sua riqueza era literalmente “incalculável”, pois controlava metade da produção mundial de ouro.
Leia a análise completa em Mansa Musa, o homem mais rico da história.
Legado e Declínio
Mansa Musa morreu em 1337. Os seus sucessores não conseguiram manter a mesma estabilidade. Em menos de um século, o Império do Mali começou a fragmentar-se, abrindo caminho ao Império Songhai.
Ainda assim, o seu legado permanece:
- Colocou a África Ocidental no mapa mundial
- Fez de Timbuktu sinónimo de conhecimento e riqueza
- Inspirou gerações de líderes africanos
Perguntas Frequentes sobre Mansa Musa
1. Mansa Musa era realmente o homem mais rico da história?
Sim. Nenhum indivíduo na história documentada controlou tamanha percentagem da riqueza mundial.
2. Porque é que quase ninguém na Europa sabia da sua existência na época?
Porque a Europa medieval vivia a crise do século XIV (Peste Negra, Guerra dos Cem Anos). Os únicos europeus que ouviram falar dele foram os mercadores catalães e genoveses que compravam ouro maliano em Ceuta e Valência.
3. O que aconteceu ao ouro que ele distribuiu no Cairo?
Grande parte foi fundida e transformada em joias e moedas mamelucas. Alguns lingotes ainda existem em museus do Egito e da Turquia.
4. Mansa Musa foi um bom governante?
Sim. Expandiu o império, promoveu a educação, construiu infraestruturas e manteve paz relativa durante 25 anos.
5. Onde posso aprender mais sobre o Império do Mali?
Recomendo estes artigos do site:
- O império do Mali e sua riqueza em ouro
- Mali, Mansa Musa e a Era de Ouro
- A figura histórica de Mansa Musa
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A história de África não começa com a chegada dos europeus — começa há milhões de anos, quando os primeiros passos da humanidade foram dados neste continente. E Mansa Musa é a prova viva de que, em pleno século XIV, a África já era o centro do mundo.
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