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O Islão é uma das religiões mais praticadas na África, com cerca de 47% da população do continente se identificando como muçulmana. No entanto, o Islão na África não é homogêneo, mas sim diverso e dinâmico, refletindo as diferentes tradições, culturas e contextos históricos dos países africanos. Uma das manifestações mais notáveis do Islão na África é o chamado Islão político, que se refere à ideologia que busca aplicar os princípios e valores islâmicos na esfera pública e na governança.
Nesse Artigo
O Islão político na África tem uma longa história, que remonta aos primeiros impérios e reinos muçulmanos que se estabeleceram na região, como o Império do Mali, o Império Songai e o Sultanato de Sokoto. Esses estados combinavam elementos da lei islâmica (sharia) com as normas e costumes locais, criando sistemas políticos híbridos e adaptáveis.
No entanto, o Islão político na África também foi afetado pelo colonialismo europeu, que impôs novas formas de administração, educação e economia, muitas vezes marginalizando ou reprimindo as expressões islâmicas. Após a independência dos países africanos, a partir da década de 1950, o Islão político ressurgiu como uma forma de resistir ao neocolonialismo, ao autoritarismo e ao subdesenvolvimento, buscando recuperar a identidade e a soberania dos povos africanos.
Neste artigo, vamos explorar como o Islão político se tornou uma força influente na África pós-colonial, quais são os seus principais atores e desafios, e quais são as suas implicações para o futuro do continente. Vamos ver que o Islão político na África é um fenômeno complexo e multifacetado, que envolve tanto movimentos pacíficos e democráticos quanto grupos violentos e extremistas, e que tem impactos positivos e negativos para a estabilidade, a segurança e o desenvolvimento da região.
O Islão político moderado na África
Uma das formas mais comuns e visíveis do Islão político na África é o que podemos chamar de Islão político moderado, que se caracteriza por defender a participação dos muçulmanos na política através de meios legais e pacíficos, respeitando as regras democráticas e os direitos humanos. Esse tipo de Islão político se manifesta principalmente através de partidos políticos, organizações da sociedade civil, movimentos sociais e instituições educacionais, que buscam influenciar as políticas públicas, as leis e as constituições dos países africanos, de acordo com os valores e interesses dos muçulmanos.
Um exemplo de Islão político moderado na África é o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (PJD) do Marrocos, que é o maior partido do país e que lidera o governo desde 2011. O PJD se define como um partido islâmico democrático, que defende a reforma política, econômica e social do Marrocos, baseada nos princípios da justiça, da solidariedade e da dignidade humana. O PJD também apoia o papel do rei como o líder espiritual dos muçulmanos, mas ao mesmo tempo defende a separação entre os poderes executivo, legislativo e judiciário, e o respeito pela pluralidade e pela diversidade da sociedade marroquina.
Outro exemplo de Islão político moderado na África é o Movimento Ennahda da Tunísia, que é o segundo maior partido do país e que fez parte do governo de coalizão entre 2011 e 2014, após a revolução que derrubou o ditador Zine El Abidine Ben Ali. O Ennahda se define como um partido islâmico democrático, que defende a transição para uma república civil, baseada na soberania popular, no estado de direito e nos direitos humanos. O Ennahda também aceitou a constituição de 2014, que consagra a liberdade de consciência, a igualdade de gênero e a alternância de poder, e que reconhece o Islão como a religião do estado, mas não como a fonte da legislação.
Esses exemplos mostram que o Islão político moderado na África pode contribuir para a democratização, a modernização e a inclusão dos países africanos, desde que haja um equilíbrio entre a identidade religiosa e a cidadania política, e que haja um diálogo e uma cooperação entre os diferentes atores sociais e políticos.
O Islão político radical na África
No entanto, nem todas as formas de Islão político na África são moderadas e pacíficas. Há também o que podemos chamar de Islão político radical, que se caracteriza por defender a imposição da lei islâmica (sharia) em toda a sociedade, rejeitando as normas democráticas e os direitos humanos, e recorrendo à violência e ao terrorismo para alcançar seus objetivos. Esse tipo de Islão político se manifesta principalmente através de grupos armados, milícias, redes criminosas e organizações terroristas, que buscam desestabilizar, controlar ou destruir os estados e as sociedades africanas, de acordo com os seus interesses e ideologias.
Um exemplo de Islão político radical na África é o Boko Haram da Nigéria, que é um dos grupos terroristas mais letais do mundo, responsável por milhares de mortes e sequestros, e por deslocar milhões de pessoas. O Boko Haram se define como um grupo islâmico jihadista, que luta contra o governo nigeriano e contra a influência ocidental, e que busca estabelecer um califado islâmico no norte da Nigéria e nos países vizinhos, como o Chade, o Níger e os Camarões. O Boko Haram também se opõe à educação secular, aos direitos das mulheres e às minorias religiosas, e usa táticas brutais, como ataques suicidas, sequestros em massa e execuções públicas.
Outro exemplo de Islão político radical na África é o Al-Shabaab da Somália, que é um dos grupos terroristas mais ativos do continente, responsável por vários atentados e ataques, tanto na Somália quanto em países vizinhos, como o Quênia, a Etiópia e o Uganda. O Al-Shabaab se define como um grupo islâmico jihadista, que luta contra o governo somali e contra a intervenção estrangeira, e que busca estabelecer um califado islâmico na Somália e na região do Chifre da África, baseado na interpretação mais rigorosa da lei islâmica (sharia). O Al-Shabaab também se opõe à democracia, aos direitos humanos e à diversidade cultural, e usa táticas cruéis, como atentados suicidas, assassinatos seletivos e amputações.
Esses exemplos mostram que o Islão político radical na África pode representar uma grave ameaça para a paz, a segurança e o desenvolvimento dos países africanos, desde que haja um clima de pobreza, exclusão, corrupção e instabilidade, que favoreça o recrutamento e a radicalização dos jovens, e que haja uma falta de cooperação e de coordenação entre os governos e as organizações regionais e internacionais, para combater o terrorismo e o extremismo.
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Conclusão
O Islão político na África é um fenômeno complexo e multifacetado, que tem origens históricas, culturais e sociais, e que apresenta diferentes formas e expressões, desde as moderadas e pacíficas até as radicais e violentas. O Islão político na África também tem impactos variados e contraditórios para o futuro do continente, podendo contribuir para a democratização, a modernização e a inclusão, ou para a desestabilização, o atraso e a exclusão. Portanto, é importante compreender a diversidade e a dinâmica do Islão político na África, e buscar formas de diálogo, cooperação e prevenção de conflitos, que respeitem a identidade e a liberdade dos povos africanos, e que promovam a paz, a segurança e o desenvolvimento da região.
Perguntas frequentes
O que é o Islão político?
O Islão político é a ideologia que busca aplicar os princípios e valores islâmicos na esfera pública e na governança.
Quais são as principais formas de Islão político na África?
As principais formas de Islão político na África são o Islão político moderado, que defende a participação dos muçulmanos na política através de meios legais e pacíficos, respeitando as regras democráticas e os direitos humanos, e o Islão político radical, que defende a imposição da lei islâmica (sharia) em toda a sociedade, rejeitando as normas democráticas e os direitos humanos, e recorrendo à violência e ao terrorismo para alcançar seus objetivos.
Quais são os principais desafios e oportunidades para o Islão político na África?
Os principais desafios para o Islão político na África são a pobreza, a exclusão, a corrupção, a instabilidade, o neocolonialismo, o autoritarismo, o terrorismo e o extremismo. As principais oportunidades para o Islão político na África são a democratização, a modernização, a inclusão, a soberania, a identidade, a solidariedade, a dignidade e a diversidade.